
Céu da Boca
Primeiro livro de poesias de Isabel Mueller, é dividido em quatro partes, que correspondem aos quatro elementos: água (Pelos fluxos); terra (Pelas peles); ar (Pelas vozes) e fogo (Pelas lavas).
Pelos fluxos é o retrato de sentimentos, das águas uterinas, oceânicas, da fluidez. Pelas peles é o cântico à sensualidade, à Eros. Em Pelas vozes ecoam falas, linguagem, silêncio. Pelas lavas é a transgressão, a vida e morte entrelaçando-se nos umbrais do tempo.
Céu da Boca é mergulho e vôo; é cosmos e pele; é a geometria das estrelas e da poesia.
Resenha – Por Romar Beling
Céu da boca revela, para a satisfação de quem gosta de boa literatura, uma autora inspirada e, ao mesmo tempo, com pleno domínio dos processos de composição.
A poesia de Isabel conquista de imediato, com cadência, ritmo, imagens poderosas, sensuais, sensíveis.
Dividir a obra em quatro partes – inspiradas, pela ordem, nos quatro elementos: água, terra, ar e fogo – cria um belo efeito, e foi explorado com muita propriedade nas metáforas respectivas dos fluxos (ou das trocas), das peles (ou dos toques, das sensações), das vozes (ou das mensagens) e das lavas (a incandescência).
É a dialética da vida, do universo, em sua ação primordial.
Numa apreciação temática, a primeira parte expressa a ansiedade e a plenitude, representadas pelo mergulho, pela coragem de inventar, investir, buscar o que esteja além dos próprios limites, saciando a alma.
A segunda parte (Pelas peles, em leitura ampliada pela terra como elemento inspirador) é densa em afetividade e paixão.
A terceira, Pelas vozes, é mais racional, cerebral, de implicação filosófica, reflexiva.
A quarta e última, Pelas lavas, é humana, sensual, de fusões, encontros e reencontros consigo e com o entorno.
Em recursos estilísticos, Isabel Mueller recorre com naturalidade a belas metáforas e às aliterações, que tornam sua poesia de audição agradável e muito fluente. Também investiga com propriedade o enigma da criação e o emblemático papel que a arte desempenha na vida de quem escreve.
Num dos poemas da terceira parte, flagra o que essa energia poética pode proporcionar: “Algo insiste em vagar:/o êxtase é um instante adormecido/que a poesia quer acordar”.
A poesia de Isabel, de cara, acorda esse instante (esse êxtase) adormecido no leitor. Maravilha!